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Quais investimentos são atingidos pela fase emergencial

O que esperar de ações e fundos imobiliários com as novas medidas de restrição de circulação

Quais investimentos são atingidos pela fase emergencial
Foto: Lucas Lacaz Ruiz/Estadão
  • A partir desta segunda-feira (15), o governo paulista implanta a fase emergencial do Plano São Paulo, ainda mais restritiva
  • Para Flávia Meireles, analista da Ágora Investimentos, o aumento do números de casos de covid-19 acaba afetando as companhias de consumo e varejo como um todo, além das lojas físicas
  • Segundo Marcos Baroni, chefe de pesquisa de fundos imobiliários na Suno Research, a suspensão do pagamento de dividendos dos fundos imobiliários de shoppings não deve acontecer

A crescente onda de contágios da pandemia de covid-19 trouxe mais medidas de restrição de circulação para tentar conter o avanço do vírus no País, como orienta a Organização Mundial da Saúde (OMS). Contudo, alguns segmentos da nossa economia são extremamente dependentes da circulação de pessoas para gerar resultado, como os shoppings centers, rede varejistas, entre outros.

A partir desta segunda-feira (15), o governo paulista coloca todo o Estado na fase emergencial do Plano São Paulo, ainda mais restritiva do que a fase vermelha. A medida vale até 30 de março e tem como meta diminuir a ocupação de leitos de UTIs e evitar o colapso do sistema de saúde.

Para se ter uma ideia, no acumulado dos últimos 30 dias, as ações da rede de administração de shoppings BR Malls (BRML3) caíram mais de 10,37%. Já os papéis do fundo imobiliário XP Malls, que é negociado em bolsa, amarga queda de 8,16% no mesmo período. Por sua vez, as varejistas Via Varejo (VVAR3), Marisa (AMAR3) e Lojas Renner (LREN3), também estão em baixa de 16,44%, 10,37% e 3,62%, respectivamente.

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O problema é que, embora as medidas de restrição tenham prazo de duas semanas, elas podem ser estendidas conforme a necessidade. Essa imprevisibilidade é cruel para esse tipo de negócio. E para investidores comprados nessas ações. Um dos riscos é a suspensão do pagamento de dividendos por FIIs de shoppings, como aconteceu em 2020, caso esses locais permaneçam fechados.

Salvação no e-commerce

Empresas com uma forte presença digital, como o Magazine Luiza (MGLU3), por exemplo, ou de setores considerados essenciais, como supermercados e farmácias, tendem a se beneficiar com as medidas de restrição de circulação, assim como ocorreu no ano passado.

Entretanto, para Flávia Meireles, analista da Ágora Investimentos, o aumento do números de casos de covid-19 acaba afetando as companhias ligadas a varejo e consumo como um todo e vai muito além das lojas físicas. “Até então, nós não tínhamos a certeza de como ficaria a questão do auxílio emergencial. O que era de nosso conhecimento é que não haveria mais este estímulo, pelo menos por enquanto. Isso fez com que as ações do segmento de consumo e varejo caíssem como um todo”, afirma ela.

Na quarta-feira (10), algumas informações amenizaram a situação local. A primeira é que a PEC Emergencial – que possibilita o pagamento de novas parcelas do auxílio emergencial – foi aprovada na Câmara dos Deputados, em 1º turno. A segunda é que o governo federal está tentando recuperar o tempo perdido e se movimentando para aumentar a velocidade da vacinação da população.

“Essas duas notícias são bem positivas para o setor de consumo e varejo e é por isso que na quarta-feira (10) elas bombaram. Inclusive, todos os papéis do segmento chegaram a subir. Via Varejo, por exemplo, chegou a ter alta de mais de 8%”, diz Meirelles.

Na opinião da analista da Ágora, as empresas mais impactadas com a restrição de circulação são as ações do varejo físico, como por exemplo Lojas Renner (LREN3), Marisa (AMAR3) e C&A (CEAB3). Elas tem bastante lojas físicas, muitas delas em shoppings, e com o fechamento são as mais afetadas. Já do lado positivo, as menos impactadas serão aquelas com a presença digital muito forte, como Magazine Luiza, B2W (BTOW3) e Via Varejo.

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De acordo com Luis Sales, estrategista-chefe da Guide Investimentos, a restrição de circulação traz incerteza sobre qual será o impacto para os investimentos e quanto tempo vai durar. “As empresas mais impactadas serão os shoppings, principalmente aqueles com maior exposição a São Paulo, como a rede Iguatemi, que vai ter praticamente 100% dos seus locais fechados para circulação. A CVC (CVCB3) também pode ter um impacto muito relevante, além das distribuidoras de combustíveis, BR Distribuidora (BRDT3) e Ultrapar (UGPA3), e os bancos em geral, tudo isso por conta de todo o estresse na economia”, diz ele.

Sales acredita que as que menos serão afetadas serão as indústrias, e as empresas de commodities, além das companhias de bens essenciais, como a rede de farmácias, Raia Drogasil (RADL3) e redes de alimentos, como Pão de Açúcar (PCAR3) e Carrefour (CRFB3). “Todas essas ações de viés essencial acabam não tendo um impacto tão grande com as medidas de restrição”, diz o estrategista.

Muito além do lockdown

O fundo imobiliário é um ativo gerador de renda, consequência da atividade econômica. Um cenário de restrição de circulação impacta o resultado dos fundos. Para Marcos Baroni, chefe de pesquisa de fundos imobiliários na Suno Research, o pequeno investidor não pode ficar refém desse fluxo de notícias tão intenso. “Ele tem de procurar se posicionar em ativos de boa qualidade, bem geridos e entendendo que, no longo prazo, essas coisas se ajustam. Fatos que aconteceram nos últimos 100 anos, em um gráfico de longo prazo, se perdem”, diz.

Um ponto levantado por Baroni é que as vendas nos shoppings no último trimestre de 2020 ficaram muito próximas àquelas do mesmo período de 2019. “Se não tivéssemos entrado na segunda onda, possivelmente neste trimestre veríamos as vendas voltando aos patamares do primeiro trimestre de 2020”, diz ele.

Apesar de as vendas terem se recuperado bem, o fluxo de pessoas foi menor.  “Um setor que ganhou bastante visibilidade na pandemia foi o setor de supermercados, justamente por serem considerados atividades essenciais e não serem passíveis de fechamento. Em algumas situações, o volume de vendas aumentou bastante e, com isso, os fundos imobiliários que têm supermercados em seus portfólios ganharam a vitrine”, afirmaBaroni.

Na visão de Gabriel Montenegro de Carvalho, gerente de produtos da Órama Investimentos, há uma correlação entre os fundos de shoppings, pois todos estão expostos ao mesmo setor de atuação. Por isso, fique atento às pequenas diferenças.

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“Fundos que possuem um portfólio mais prime, ou seja, com ativos de melhor qualidade, devem sofrer impactos menores. Por mais que tenham perdas de receita relativamente próximas a seus pares, a qualidade do portfólio será um diferencial em termos de saúde financeira dos empreendimentos e, inclusive, para uma retomada mais rápida”, diz Carvalho. “Já os que possuem portfólio com menor qualidade poderão ter uma trajetória de recuperação mais lenta.”

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